sexta-feira, julho 04, 2008

12 de Janeiro


O sol apenas queimava e ao invés de fazer brotar gotas de suor nos homens expostos, secava com rapidez toda e qualquer manifestação líquida do corpo humano. Não havia poças no chão, o sangue engrossava e o suor grudava, incrivelmente sólido, nas camisetas rasgadas e ferventes. Os olhos ardiam e mesmo assim nenhuma lágrima ousava cair. A paisagem estagnada sendo movimentada apenas pela ilusão do vapor que emanava do asfalto. A temperatura ambiente era fruto do psicológico humano e da malícia do imponente e impiedoso sol. Gargantas secas por toda eterniade numa retida cumplicidade entre o silêncio e o sofrimento. Com a forte luminosidade, as folhas caídas queimavam e as ruas eram verdadeiras Vias Dolorosas. Janeiro não tinha razão de existir, no entanto, aquele 12 de Janeiro parecia inadequado à morte.

5 comentários:

Hudson Pereira disse...

Um dia bastante adequado ao sofrimento.

Dizem que o inferno é aqui,seu texto mostra que sim.

Matheus Rodrigues disse...

Pôxa, muito bom esse texto.
Não há o que dizer além disso. Coeso, poético, síntético...
Ah, perdoe-me o descuido, eu sou o Matheus (dãã!) o Hudson me indicou o seu blog e, realmente, ele não estava mentindo quando falou que era bom, agora vou sempre passar por aqui.
Abraço,
Matheus

Anônimo disse...

Lindo!!

Anônimo disse...

Primeiro de tudo, pintura impressionista? Pelo menos é o que parece, amoooo! hehe.

E quanto ao texto, SUPIMPA! ahahah, que palavra mais bizarra para se referir a um texto tão bom, né? Então deixe-me mudar... que texto espetácular! Adoro esse gostinho de sofrimento, não que eu seja má, sabe? Rs, mas acho que dá um toque todo especial.

Beijos

Vanessa Martins disse...

Sem paixão todo e qualquer dia é adequado pra morte. Não que a paixxão, repentinamente, iniba qualquer processo de falência ou destruição, mas sem ela não é possível saber se valeu ou não a pena ter chegado até aqui.
Como vc mesmo disse em um outro texto anterior: Falta [litros e litros] de serotonina nesta pós-utopia.

PS: Nem sei mais o que dizer de seus textos. Acabo me tornando repetitiva ao dizer que adorei!

;^)