sexta-feira, setembro 04, 2009

Mrs. Dalloway,


"Always giving parties to cover the silence"


Exaustivo. Mais que fatídico. Exaustivo todo esforço sobrehumano depositado em fantasias vãs e desonestas. Antes mesmo de pensar em qualificar sua frustração, a sua impotência perante o jogo que acabara de perder, pensou se sobrehumano e desonsto estariam escritos de maneira correta. Seu objetivo antes de tudo era impressionar linguistas distantes, esse pessoal que se apega mais à linguagem do que às pessoas.


Tola. Linguistas não dariam a ela o que ela mais deseja: carinho. Porque amor é concreto e ela é abstrata ao extremo. Não consegue pôr os pés no chão para experimentar sentimentos reais.


De volta aos seus pensamentos originais, à sua estratégia falida de jogo, ela não consegue dormir pensando no que teria sido diferente, em como intrepretaria o xeque-mate, no que teria surtido melhor efeito, em quem ligaria na noite seguinte e lhe diria palavras de amor, em quem a convidaria para sair, com quem poderia realmente contar, por quanto tempo atribuiria amor recíproco a quem ela venerava, por quanto tempo fingiria entender que era amor uma noite de sexo eventual e sem sentido.


Sua obsessão pelo futuro do pretérito é reflexo de seu tempo irreal e herança de sua paixão por acadêmicos com problemas emocionais.


Sozinha em seu quarto escuro, a espera de um velho ombro amigo, só ouvia silêncios e lágrimas.


Mais uma vez, ela tentava se concentrar em busca de uma auto-análise que pudesse explicar suas máscaras, seu complexo de inferioridade ou até mesmo o término de seu dom de manipular, seu trunfo. Ledo engano...

Mas sua angústia solitária e vazia paradoxalmente ocupavam e lotavam sua mente, seu coração, seu corpo.


Criava então uma fazenda com hectares e hectares de distância dos risos, dos jardins, do calor ameno, do sol, das borboletas...


Abriu um livro na tentativa de alimentar-se com conhecimento, absorver razões, impressionar linguistas, impressionar estranhos, ocupar seu tempo, esbajar inteligência, esbanjar letras desprovidas de sentido, esbanjar-se de credibilidade. Sem ao menos notar que quem admirava sua destreza e dedicação, não precisava de provas, de evidências ou de baladas.


Ao estabelecer sua moeda de troca, para fins públicos, queria sempre estar certa. Sem se dar conta que estar certo não é mais importante que estar feliz.


Quanto a sua vida particular repleta de fantasias e futuros do pretérito, se vendia por quase nada ou então por promessas igualmente fantasiosas ou preteritofuturistas. Não podia ser diferente. Sua pseudo-auto-suficiência se encarregava de atribuir sentido a todos os seus interlocutores. Quando se está certo, não é necessário ouvir ninguém. E quando se está delirando?


O tempo e a descrição do narrador não foram suficientes para dar a ela o tempo necessário de pôr os pés descalços na terra e começar a plantar no solo ainda fértil seus bons frutos do perdão, mas assim como deve ser exaustivo narrar infinitamente um jogo psicológico no mundo das idéias, deve também ser exaustivo perder seu próprio jogo no mundo do real.


...


Post-Scriptum do narrador: Nunca serei Virginia Woolf, pois o fluxo de consciência alheio não tem sustentado às demandas pela atribuição de sentido ao vazio da existência...

Um comentário:

Vanessa Martins disse...

Ser auto-suficiente não é suficiente. A gente aprende que tudo que mostramos aos outros pode não ser ideal, real para nós mesmos. A pior parte é ter que (con)viver com isso. Não adianta escrever, (mal)amar e pedir que os linguistas olhem às palavras com ternura, pois eles as disecam como ratos em experiência de laboratório: a inteligência acadêmica não pressupõe inteligência emocional. Nunca acredite em pessoas que te encontram à noite, pois aqueles que realmente amam, sorriem e exibem-se à luz do dia.