sexta-feira, setembro 18, 2009

Boa Sorte

Da noite pro dia
Nem sabia que aquela seria a última vez que eu a via
Da noite pro dia
Ela sorria e me garantia estar na maior alegria
Da noite pro dia
A ironia é serventia por conta da casa vazia
Da noite pro dia
Da noite pro dia

Então ela me deu um beijo no rosto e disse "Boa Sorte". Daniela. Sempre ela. Às vezes confundida com Gabriela, mas sem cravo nem canela. Feia, mas de personalidade. Virou o rosto de forma agressiva e saiu pela rua sem olhar pra trás fazendo barulhos insuportáveis com aquele salto alto. Presente. Odeio mulher que não sabe andar de salto alto. Exceto ela. Tinha certeza de que aquela cena era uma despedida. E assim que a última expressão foi dita, mentalizei canções de Vanessa da Mata & Ben Harper. Essa era Daniela na TPM. Mulheres que entram e saem da sua vida quando bem entendem são as mais ardilosas, principalmente durante a menstruação.


Pena dela. Perdeu a oportunidade de conviver comigo por mais tempo, pelo menos por hoje. Pena de mim, que me vanglorio perante o espelho por estar mais um dia sem ela e ainda assim continuar vivendo. Valia mais do que o troféu que recebi, por méritos duvidosos, do AA. Um ano sem uma gota de álcool. Não adiantou nada. Resto da vida sem uma gota de Daniela. Me recompus. Atrasado e confiante, pensando que Daniela iria, mas voltaria, iria de novo, mas voltaria de novo, como ela sempre faz, corri para não perder o 455.


Cheguei à conclusão de que coisas insólitas acontecem todos os dias. Cabe a você procurar motivos para tais eventos ou então banalizá-los. O mais importante é nunca ser o bonzinho da história. Prefira ser o canino ou o filho da puta. Assim, você nunca será subestimado e nunca vai conhecer um tal de amor-próprio que só serve pra deprimir as pessoas.


Corri, juro. Mas não consegui alcançar o ônibus. Nesses momentos em que me sinto psicologicamente atrasado e não apenas cronologicamente, sei que meu chefe está feliz. Sei também que ele já está na agência, sentado na recepção esperando o elevador abrir para, num sistema robótico, olhar para o relógio e para mim por 3 vezes seguidas religiosamente. A dramatização começa quando ele finge que vai me demitir e eu finjo que fico intimidado com a fisionomia séria dele. Na verdade, ele não faz isso porque se preocupa comigo, mas por prazer, porque isso é felicidade para ele. Ele tenta fazer da felicidade um costume. Quando eu chego no horário, ele me torna invisível. Odeio gente que não gosta de encarar a própria infelicidade. Exceto eu. O mais importante é nunca dar trela para um idiota, a menos que o idiota seja você.


Nunca disse que achava a Lei de Murphy justa. Leis foram criadas para favorecer uns ou outros. Se o beneficiário sou eu, certamente a lei está errada. Se fui correndo que nem um imbecil atrás de um ônibus que não parou e a cena deprimente foi vista por uma amiga da Daniela, ou se sofri por amor e por isso cheguei 20 minutos atrasado na agência, certamente a lei está certa.


No elevador tem um smiley que diz: "Sorria, você está sendo filmado". Acho estranho "está sendo" porque seria a mesma coisa dizer "é". As pessoas são prolixas, gostam de usar duas palavras quando apenas uma letra resolveria: "está sendo", "boa sorte". Se tudo que esperam de mim é um sorriso, eu sorrio. Sorrio no elevador, ponho o dedo no nariz, faço careta para a câmera, ou para o smiley sorridente; se tivesse alguém ali, eu treparia. Afinal, são 15 andares, tempo suficiente. Meu vídeo iria parar no top list do Youtube por uma semana, até algum ex-bbb se embebedar e dançar pelado na praia de Copacabana. Meus 15 minutos acabariam neste instante, mas ainda assim me restariam 15 andares de puro sorriso.


A verdade é que não se pode levar o ser humano a sério. Não se pode querer construir um relacionamento, uma família. Não se pode querer uma pessoa pro resto da vida. Simplesmente porque na vida você só vai encontrar filas. Filas no médico, no supermercado, no banco, na lavanderia, no cinema, fila de ônibus, de motel, de parque de diversões. Até pra fazer primeira comunhão tem fila. Fila pra gerar uma filha, para animais, cães principalmente da raça Fila. Fila para recolher as fezes dos animais mimados que andam pelo calçadão achando que o mundo é um penico gigante. Fila para pisar no cocô e fila para tirar a massa marrom entranhada no tênis cuja textura pastosa se desfarela em contato com água e escova escorrendo ralo abaixo até encontrar um esgoto, seu lugar.


Esse ser humano que pisou na merda de cachorro vai praguear com palavras ofensivas um outro ser humano que certamente estará no conforto de seu lar, numa cobertura qualquer, deitado em lençóis limpos, cama limpa, sofá perfumado e que nunca repete roupa. São seres humanos que de tão imundos chegam a criar anticorpos para tudo, enquanto o ser humano que não tem cachorros concorda religiosamente com o destino a que fora submetido. "Pisei na bosta" Amém. "Estou fedido" Amém. "Nem tenho cães" Amém. "Vou ter que limpar meu sapatênis. "Amém.


Bem, escatologia não é falar de fezes caninas, mas da sujeira do mundo, da nojeira do ser humano. Veja as próprias celebridades que se recusam a ir pro Centro de Reabilitação por achar emque são a personificação da atitude. Se bem que passei pelo AA, mas ainda continuo um estorvo para mim mesmo. Lembro que na época, ouvia muita música internacional. utilizava como toque do meu celular. Hora do almoço. 2 horas inteiras de ócio. Não posso ficar no ócio. Estou de dieta.


Lamento por todos que foram privados de minha companhia no almoço, mas principalmente por Daniela, que vai voltar arrependida pros meus braços, para logo depois se desarrepender e virar o rosto de forma agressiva enquanto compõe uma sinfonia desafinada com seu salto alto. Dane-se Daniela. Nos conhecemos num período crítico de nossas vidas. Eu pensava em me matar e ela achava que era lésbica.


Enquanto eu estava num banco de praça lendo uma revista sobre Web Design, ela me avistou do ônibus. Preguiçosa demais para pensar em seus próprios problemas, ela ficou me observando. E num curto momento em que eu fui espantar um pombo de perto do banco, cruzamos olhares.
Naquele momento, concluiu que era eu o grande amor de sua vida. Desceu correndo do ônibus e veio em minha direção. Esbaforida e meio tímida. Chegou perto de mim e se apresentou como Julia Roberts. De cara percebi seu complexo de inferioridade. Isso me ajudou a superar minha timidez. Dali em diante concluí que ela era louca. Freud nem Lacan explicariam. Mesmo com vergonha dos meus dentes separados, sorri.


Apenas sorri e quando percebi que meu silêncio constrangia nossa conversa e que eu estava a ponto de perdê-la, desandei a falar, falar, falar coisas sem sentido, semi-organizadas e confusas, mas que surtiram efeito. Tivemos uma tarde feliz no balanço do playground, na sorveteria e no Sexy Dreams. Foi lindo.


Sempre senti nojo daquele doce com pozinho azedinho onde enfiávamos o pirulito já babado para recolocar na boca. Naquela noite não me importei em compartilhar aquilo com Daniela, mesmo depois do sexo oral que ela fez em mim. Nem fui egoísta de não dividir aqueles chicletinhos quadradinhos que vinham numa embalagem onde tinha uma carinha com um sorriso. Definitivamente interpretei aquilo como amor. Amor pro resto da vida. Amor pro resto da morte. Sempre soube que não haveria espaço pra mim na vida dela e nem pra ela na minha vida. E digo isso sem nenhuma melancolia. Odeio essas pessoas que não têm o que fazer e ficam procurando depressão onde não existe. Exceto eu.


Me masturbo com a mesma facilidade que distribuo sorrisos falsos. Ambos me ajudam a viver relativamente em paz com os outros e me livram do suicídio.


Acho que estou falando mais do que o que vim aqui abertamente falar. Não importa quantas vezes Daniela vai embora. Haverá as brigas, os tapas, os beijos e abraços, os momentos de reconciliação, de intimidade e de vergonha que passei só para agradá-la. Lembro daquela vez em que ela me pediu pra imprimir pornografia na agência porque não queria gastar tinta de sua impressora. Então, aproveitei um momento de calmaria no trabalho, liguei a impressora. Eis que surge o meu chefe. Diria até que tinha adivinhado que eu estava fazendo merda. Então, surge meu chefe caminhando em câmera lenta na minha direção. Pálido, puxei os papéis, que murphymente agarraram na multifuncional HP. Sinto em informar, mas discrição não é o forte para alguém da minha altura.


Publicitário, 29, Demitido. Encontrado com pornografia em ambiente de trabalho. Isso era o que passava pela minha cabeça ao ver aquele velho disforme na minha direção. Ele se aproximava e a máquina fazia barulhos estranhos por causa dos papéis entulhados.


Parou do meu lado e perguntou: "O que está acontecendo?" Mostrei minhas mãos sujas de tinta preta e disse: "Mandaram imprimir alguma coisa aqui, mas o papel atolou", com a maior naturalidade do mundo. "Deixa que eu tiro então", disse com aquela voz rouca, num tom de impaciência e briga típicos de viciados em charuto. "Não, não. Faço questão, Seu Moacyr", disse eu, num esforço sobrehumano para parecer solícito, desafiando assim minha natureza. Ele puxou um papel da minha mão, tinham uns contornos pontilhados bem falhados no papel amassado e borrado. "O que é isso?", perguntou arqueando as sobrancelhas. "Não sei..." disse, reticente. Jogou o papel no chão, fez um comentário incompreensível sobre a imaturidade alheia e seguiu seu rumo. Ao perceber uma pequena gota de suor na minha testa, tive mais uma conclusão sobre a vida: o mais importante é sorrir. Mesmo que esteja prestes a ser demitido, sorria. Mesmo que esteja odiando as pessoas à volta, sorria. Mesmo que seus impulsos percam para as viadagens do seu superego, sorria. Ao ajudar os outros, você sempre se ferra. Ainda assim, sorria.


Uma vez, um diretor de arte bem experiente veio me perguntar quem tinha trocado as cores do banner que ele fizera. Claro que tinha sido eu, num dos raros momentos em que tive poder. Não concordei com o gradiente rosa da campanha, mudei pra vermelho que é quase a mesma coisa, ninguém notaria. Ele desconfiou que tinham mudado e sabia que fora eu. Percebi pelo "veja bem". Odeio essas expressões que disfarçadamente nos preparam para um sermão. "Veja bem, quando você viola uma lei..." "Veja bem, o que acontece é o seguinte" "Veja bem, o fato de você ter feito aquilo". Gosto de tudo direto. "Por que você trocou a cor do banner que eu, super-fodão, fiz?" Por que ele não chegou logo assim? Ficou esperando uma confissão? Se não tinha dito no momento em que alterei a cor, o que o leva a crer que darei minhas mãos às algemas dele logo neste momento? Que tipo de poder ele acha que exerce sobre as pessoas? Odeio gente que vive de rodeios pra tentar manipular o outro. Exceto eu. E o mais importante é negar sempre, até a morte. Mesmo que ninguém acredite em você.


O mais importante também é destruir os inimigos aos poucos. Ultimamente tenho sabotado os vídeos publicitários de um colega retardado da agência. Comecei com uma difamaçãozinha aqui, uma fofoca acolá. Depois aumentei. Uma ediçãozinha mal-feita, um corte onde não deveria, inclusão cenas para o comercial passar de 30 segundos, alteração na cor, no contraste, no som. Enfim, nada disso adiantou. Nada contribui para a derrocada alheia. Ele não perde a arrogância nunca.


A última que pensei foi em pôr dinamite no carro dele para assim que ligasse a chave, o acidente acontecesse. Em tese, faria um bem ao meu ego, pois não teria que aturar competição de gente arrogante, teimosa e burra. E, claro, meu país agradeceria, pois minha atitude só faria gerar mais empregos.


Óbvio que não quero que meu nome vá parar na mesa da Dona Carmem. Mas quando falo em Carmem imagino logo uma gorda cheia de varizes, com cara de traquinas, vocalista de um grupo de música indiana o qual jura que faz sucesso. E, claro, muito mau-hálito. É assim que gostaria de encontrar Daniela: gorda, expulsa de um cortiço e jogada na sarjeta sustentando fiapos de dignidade.


Tá bom, confesso. Só penso nisso de vez em quando porque no fundo eu só quero o bem dela, quero bem a ela, mesmo achando que fosse melhor o contrário. Da última vez que Daniela foi embora foi por causa de Raíssa, minha vizinha. O estopim da separação foi quando adicionei a Raíssa no orkut. Ela negava até a morte, mas morria de ciúmes. Na verdade, tinha encontrado a Raíssa lá próximo à agência, ela disse que a mãe dela trabalhava por lá, daí a convidei para uma festa de fim de ano da agência onde soube que ela deu pra geral. A partir desse evento, passamos a nos falar. E alimentar ainda mais o ciúme sem razão de Daniela. A Raíssa é a típica eterna adolescente. Gosto de mulheres maduras, exceto Daniela. Nunca iria rolar, sabíamos bem. Teve um dia que peguei o elevador com Raíssa e, Daniela, meio bêbada, repetia rapida e incessantemente "bocadeboqueteira, bocadeboqueteira". Raíssa virou-se, não sei se ficou chocada com o linguajar e o teor de álcool de Daniela ou com minha cara cínica de "não faço idéia do que esteja acontecendo!". Nunca mais falou comigo. Que pena. Odeio gente que leva tudo pro lado pessoal. Exceto eu.


Contudo, o mais importanté é que o amor é a maior furada do mundo (depois da família, claro). O mundo seria bem melhor se as pessoas não se apaixonassem, antes, ficassem amigas para sempre sem ultrapassar a linha tênue que desestabiliza a auto-suficiência. Sei que em todas as relações que pensei ter amado, ficou algo não resolvido, não solucionado e fingidamente esquecido. Algo que permanecerá sem resolução pra sempre devido a intimidade que se perde com o tempo. A furada maior é estar preso a um momento em que é tarde demais pra qualquer ponto final; é estar deixando lacunas no que se entende por liberdade.


Estar deixando, vamos estar deixando. Inseri um gerundismo telemarketiano numa redação publicitária do Hans, meu rivalzinho de trabalho. Aquele mesmo que matei com as dinamites. Sentei e fiquei esperando a apresentação dele fracassar. Não deu certo. Ele, sem parecer desconcertado, dizia que era a linguagem do século XXI e que estava pautado em teorias lingüísticas para tal. Me pergunto até hoje se ele era desses intelectualóides que tinham mania de relativizar tudo ou se era tudo fruto de má formação na Estácio de Sá.


Daniela some e aparece, reaparece e resome. Eu só mordo e assopro porque sei que não são só meus amores que estão repletos de coisas mal-resolvidas. Odeio ambigüidades, exceto a minha. Mas sou assim porque tenho certeza de que ela vai sempre me procurar em outros beijos e abraços, assim como já a encontrei desta forma. A diferença é que ela sempre passa pra mim, mas eu sempre fico pra ela. Ela nunca soube lidar com rejeições. Eu me acostumei.


E volta a cadela arrependida. Sente saudades do que houve entre nós. Pensa em tardar a comparecer no meu aniversário pra medir o quanto ainda estou apaixonado; pensa em se casar com outro homem pra medir o quanto ela vai pensar em mim. O que ficou mal-resolvido, mal-resolvido sempre estará. Não adianta. Ela sempre será minha. E viveremos sempre nesse nosso jogo de esconder a nossa falta de aceitação por gostar tanto um do outro. Mas o tempo passou e daqui a pouco eu volto pra casa cabisbaixo, triste...


Explosivos devidamente colocados no carro do mauricinho. Expediente terminando. Nem revejo nenhum banner pra distribuir pros pontos de venda. Volto pra minha casa ver seriados adolescentes e engordar.


No caminho de casa observo pessoas. Alegres, tristes, feias, bonitas. Sempre penso em Adriana Calcanhoto nessas horas. Sei que é sinal de depressão. Sempre penso em programar meu celular pra tocar música internacional. Penso em ter uma depressão mais exagerada , mas não me permito abrir a porta dos meus porões. Hesito perante a expectativa do toque sem a minha programação. Deixo a sorte escolher a música e me desejo "Boa Sorte" sempre.


As pessoas me observam também, sei que sou invisível e à primeira vista, bem rápida, o máximo que devem pensar é "bonitinho, aquele rapaz alto". Mas me acho sem-sal. Para gostarem de mim, preciso de um olhar mais profundo. Preciso de alguém que me aceite e me abrace e me compreenda e me sorria. Como Daniela nunca fez.


Chego em casa e vejo malas alojadas no canto da sala. Casa limpa e arejada, cheiro de comida não-congelada. Minha mãe resolvera se hospedar. Mal sabíamos que Daniela tinha intenções românticas de dividir o apartamento sem ter nenhuma despesa por isso. Matriarca e Amante, mesmas intenções.


Eu também mal imaginava que Daniela iria ficar puta porque minha mãe estava jantando comigo, em silêncio. Nunca se sabe o diálogo que poderia haver entre mãe e filho tão distantes, e ela não fez nenhum esforço pra me salvar do meu constrangimento. Horas depois, a movimentação de viaturas de polícia e bombeiros me daria a secreta certeza de que o meu plano tssassino tinha dado certo. E, de tão péla-saco que ele era, deve ter levado mais gente consigo em sua BMW. Graças a Deus que lembrei de limpar as impressões digitais.


A educação súbita de Daniela fez com que minha mãe subitamente me deixasse me paz. Mas Daniela decidira ir embora novamente deixando mais uma vez o relacionamento em aberto. Saiu com rumo certo pra ela, incerto pra mim.


Na verdade, achava que investigadores da polícia junto com os CSI enxeridos iriam bater à minha porta antes disso, para questionar as razões das pesquisas sobre pólvora e explosivos em meu computador. O mais importante é saber que há sempre alguém vigiando você mesmo que você não veja. Seja a secretária da agência, seja pela página do orkut, seja pelos vizinhos vingativos, etcétera. Por isso, não se esqueça de apagar o histórico do seu computador antes de voltar para a casa. Assim, poderás dormir com a consciência tranqüila.


Durmo com a consciência tranquila sempre que penso em Daniela. Nunca entendi o nosso relacionamento por completo, mas entendi que só me sentia completo com as coisas mal-resolvidas, sem completude, sem ponto final, apenas virgulas, travessões e infinitas reticências. Pra sempre.


Quando cheguei aqui no hospital da polícia, encontrei Dona Carmem, a secretária da agência. Soube que ela foi encaminhada para um hospício a causa de seu surto e descontrole emocional. Acusava a todos da agência pela morte do namorado de sua filha, meu colega de trabalho, o Hans. Ela tinha sérias acusações principalmente contra mim. Nem imagino o porquê. Afinal, consegui provar que as pesquisas sobre explosivos do meu computador faziam parte da campanha que estava promovendo como freelancer pra uma empresa famosa. Quis trabalhar o conceito de explosão como algo novo e que causa impacto no mercado e assim, poder desenvolver minhas estratégias de criação e etc. A galera da delegacia me achou muito inteligente, ainda mais quando disse que estavam gravados no computador porque pretendia incluir as imagens no meu portfólio profissional. Publicitário tem dessas coisas, lábia.


Além do mais, o principal suspeito era o Seu Moacyr que estava namorando a filha dela, a Raíssa, minha vizinha e amiga de orkut. Inclusive, essa menina estava saindo com o morto, sabia? Dizem as más línguas que o jeito machão do Seu Moacyr não admitiria uma coisa dessas. Crime passional, sabe como são essas coisas.


Como a Dona Carmem está com sua sanidade debilitada, eu tive que vir aqui reconhecer o corpo da moça que estava no carro que explodiu, já que sou vizinho, solícito e seu Moacyr está preso. O mais importante é sempre ser honesto e espalhar a verdade por toda a parte, ne?

Bem, já estou muito ansioso e estou esperado aqui nesse lobby de hospital por mais de 2 horas, amigo. Aquele lá fazendo sinal não é o legista? Bem, acho que devo acompanhaá-lo. Deseje-me boa sorte, amigo.


- É naquela sala ali. A segunda maca, o corpo coberto com o saco preto.

- Obrigado, doutor. Vou verificar.

Um pouco aflito pelo cadáver, mas ansioso para voltar à vida sem crimes, sem seu Moacyr e à eterna espera pelos infindos retornos de Daniela, suspendi o saco preto.

Emudeci. Hesitei. Agora sim, tive certeza de que aquela cena era uma cena de despedida. Boa Sorte, Daniela.

Da noite pro dia
Nem sabia que aquela seria a última vez que eu a via
Da noite pro dia
Ela sorria e me garantia estar na maior alegria
Da noite pro dia
A ironia é serventia por conta da casa vazia
Da noite pro dia
Da noite pro dia

4 comentários:

Fernanda Maria disse...

Fatídico.

Unknown disse...

Caramba, que texto Dinâmico!!!
Surpresas e surpresas!!!

Ana Carolina Lôbo disse...

=)Fiquei com preguiça de ler rs!Juro que da próxima leio!heee te achei qui xD

Daniella Benício disse...

ACHEI MUITO BOM,GRANDE MAS BOM