sábado, maio 03, 2008

Axé Music

Em plena Quarta-feira de cinzas, findo o Carnaval para aqueles que compreendem a utilidade do superego proposto por Freud e não se rendem às mazelas carnais e decadentistas de uma época animadinha onde o ser humano esquece suas obrigações para correr desesperadamente semi-nu atrás de ônibus gigantescos em pleno sol de 40° seja em qualquer lugar do país, discutia com pessoas que jamais participariam da orgia mencionada acima - não por falta de vontade, mas por puro recalque - sobre o estrondoso sucesso do Axé Music de Salvador que repercutia em todo o país.

Chegamos então, à personagem-protótipo dessa escola musical que tem colhido bons frutos nessa área, principalmente nessa época. Eis que surge a figura da Poderosa Ivete (voz e pernas) e sua Festa, seu carro não mais velho, seu amor canibal e sua pequena astronave dando um ar inaproriadamente psicodélico ao contexto ao qual ela pertence.

O comentário na rodinha dos pseudo-intelectuais, dos especialistas em cultura inútil e dos recalcados de Carnaval era o extermínio do Axé Music da face da Terra ou o assassinato - com direito a bilhete emo-suicida (pleonasmo?) - da querida diva brasileira, cujas pernas, by the way, valem a ida a Salvador. Dentre comentários do tipo: "Morte ao Axé" "Anarquia soteropolitana" e outras ofensas impróprias à pessoa pública da querida ex-peguete do Huck e da Xuxa (oops...), algum fã, nitidamente esmagado e pressionado a falar mal de seu ídolo, tentava de todas as formas amenizar a situação. "Ai, gente, ela nem é tão ruim assim, vai?" Sendo rebatido constantemente pelos líderes revolucionários que preferem apontar o joio a recolher o trigo.

Então, ainda contrariado, mas indisposto a continuar uma discussão. Afinal, gosto não se discute, ne?, o retraído fã diz: "O que ela faz é ruim, mas ela é boa no que faz". Alguns ficaram calados, concordando com os atributos vocais, artísticos e físicos (da cintura pra baixo, claro), mas não senti que aquele argumento realmente fosse válido para qualquer coisa.

Se partirmos do ponto de que a competência gera a crítica positiva, estaríamos então elogiando e admirando o assassino competente? o corrupto competente? o pedófilo competente? Se nossos argumentos se direcionam para a maneira como as pessoas agem e ignoram a ação que está sendo feita, acho difícil chegar-se a alguma conclusão que defina realmente um ponto de vista plausível. Não sou politicamente correto, mas também não adoto os ideias dos incorretos e dos serial killers. O ser humano é ambíguo mesmo. Mas se é pra fazer o bem, que façamos bem. E se vier o mal, mesmo que de forma bem feita, não esqueçamos do mal. O mal pode ser mascarado, claro. Mas molduras boas não salvam quadros ruins e máscaras de porcelana quebram facilmente.

Quanto à Ivete, não emiti nenhuma opinião. Sabe como é, ne? Opinião é igual a bunda, cada um...

3 comentários:

Fernanda Maria disse...

Sem comentários!!! Perfeito!!!

Adorei o jeito como conduziu o texto. Se no início parecia despretencioso, do meio para o final mostrou o crítico sensato, na minha opinião que você é. Se é que esta voz é sua mesmo!!!

Parabéns!!!

Mil bjus

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Além de contista cronista tmb, ãh?!?!?!
E sobre Ivete... deixe-a fazer a festa no gueto... Eu não vou, nem vou chegar. Não curto essa coisa de misturar o mundo inteiro para ver no q q dá...

E, cá pra nós, Ivete é a Beyoncé tupiniquim: um corpo com talentos questionáveis, mas que sabe ganhar dinheiro... assim como os traficantes, políticos, assaltantes de grande porte... cada um com seu talento e especialidade, ora bolas!!!